segunda-feira, 16 de junho de 2014

Visão.

E que precisava eu senão de olhos?

Tudo é simples quando não se complica.
Um tal ambiente que tudo petrifica.

Não sei, serei?
Tudo muda quando nada penso ser
Quando pensei ser e em tudo querer.

Quero um dia, uma hora
Um só minuto que seja para contigo ser
Contigo estar, contigo viver.
Nós, tu e eu, os três sozinhos.

Numa melodia carnal a terna sereia canta.
A feromona fatal que contudo me encanta.
E se tudo eu quisesse ter
Eras tu porém que me merecia engrandecer.

Pudesse o Universo juntar-te a mim.
Acima de tudo, desejo poder o nós conhecer.

sábado, 14 de junho de 2014

Algarismo.

Um.

Um suspiro de luz
Irónico bafo de alcaçuz.
Uma insanidade que se conserva
Flutuando numa nuvem de erva.

Dois.

Dois corações que se encontram
Duas almas perdidas no vazio.
Que se não sabem e se desencontram
Num saudoso campo bravio.

Três.

Deus, Terra e Homem
A trindade santa que nada fez.
Entidades que sempre dormem,
Irtos, santos, como um qualquer português.

Quatro.

Não será demais, quatro?
Dois pares.
Um trio, individual.
Quatro nadas.

E então vês.
O mundo é feito para dois.
E com toda a lucidez afirmo:
Que não deixarei nada pra depois.

domingo, 9 de março de 2014

Ode A Olissipo (Parte 1)

Oh amor,
Das grandes manchas de estranja.
Ondas de quem não é e quer ser.
Ou quer sê-lo.
Mas nunca será.

Paixão,
De quem te vive.
Quem te viveu.

Arvoredo de casas
Translucidamente belo.
Um fado te tributo
E um seguidamente o farei.

Ó cidade,
Espelho de mil raios.
Montanha eterna,
Indestrutivelmente eterna.

O palco da vida moderna te chama.
Amor conspurcado.

Os teus filhos partem saudosos,
Porquê mãe?
Porque nos deixas partir,
Se tanto nos amas?
Três raios de Sol iluminam o teu esquecimento.

A lua, terra, mar e deuses.
Todos te invejam.
Contemplamos-te como se de um templo se tratasse.
O templo de uma religião secular
Que Ulisses criou.

Ninfas,
Tragam-me de volta ao mar.

Deixem-me viver.
Não quero partir.

Porquê partir se a ti pertenço?
Casa de mil reis, rainhas e príncipes.
Palco da cultura, da política e...

A ti te saúdo com saudade!
(Redundância ignóbil,
Pois choro e grito por não te ser.)
Quero amamentar-me de ti.
Sugar. Viver. Morrer.

Das minhas cinzas a tua terra padecer.
No meu coração luso o céu engrandecer.

O teu céu, Olissipo.
O teu céu, aquele que as naus viram
Antes da derradeira partida.
O teu céu, aquele que nada tinha
Mas que tudo era.

E quem sonhava!
Ó quem em ti sonhava,
E morria sonhando!

Quem de ti vivia.
Quem não sendo um,
Era todos e em toda a parte.

Ó como te amo!
Como seria capaz de chorar
No teu colo quente até adormecer.
Como por ti lutava!

Nada menos que a eternidade,
Seria para ti digno.

(Sento-me.
Choro o vazio e tudo.
E tu, amor, consolas-me.
Uma gaivota berra.
As ondas cantam.
Danço um slow em memória...
Mas de quê, mãe?)

Volto assim à complacente fervura,
Um cântigo celta, um fado gritado!
A vida, a morte,
Cantando um fado chorado!
Onde estão os teus braços,
Para me segurar?
Os meus óculos estão baços.
Não, não quero voar.

Eu quero nadar, mãe.
Quero de ti fazer parte.
Quero ser uma árvore.
Um pássaro, talvez.
Quero em ti ser e tudo ser.
Sonho em sonhar contigo.

Como será o sonho dos outros?,
Não sendo eu nem tu, profunda paixão.
Que será deles?
Que seria de mim?
Que faremos nós?

Não respondas, mãe,
Um cruzeiro aproxima-se.
Eles ouvem-nos.
E querem ser nós.

(Não sei nadar, mãe.
Grita-me que deste lado estou.
Ajuda-me!
Quero saltar!
Diz-me que aí estas.
Mãe, não quero morrer, mãe.)

Quero partir contigo.
Embarcar. Acompanha-me.
Sinto-me tão sozinho.

Aaaaaaaaaaaaah!
Foge! Os canhões!
Consigo ouvi-los, foge comigo!
Eles aí vêm,
Eles estão aqui, mãe!

Morres, eterna,
Sem de ti fruto haver.
És o fruto da nossa nação.
Não o trono,
Mas o nosso coração.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Interpretare.

Volevo essere libero.
Volevo proprio la mia vita.
Non poso. Non lo farò. Io resistere.

Understand that I want me,
I won't flee.

I call thee, lord of Spades.
King of all trades.
Weaker in the sea,
Strong amongst the shades.


Retórque malum in adversários meos,
et pro fidelitáte tua déstrue ilos.
Oh, how can you be so cruel?
Apprentice of the Ghoul.
The great master of Death.
Descendant of MacBeth.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Ode-inator

Sei quanto de mim te quer
Ó vangloriada canção.
Não há nada em mim que não queira,
Um de ti no meu coração.

Previsível ou não, quero
Uma melodia que te glorifique.
Bela musa de reis e deuses
Inspiras-me e canto.

Canto a minha e a nossa vida.
Eloquente ou não, tento ignóbil,
Igualar-te ó cidade.

Tanto de mim fizeste,
Tudo de mim quiseste.
Querer-te-ei como queres ao mar.

quarta-feira, 5 de fevereiro de 2014

Bebida.

Embriagado, assombrado
Num assombro que tudo é meu
E teu, num apertado sufoco.

Não evoco, chamo
Não há um momento que tenha
Sido um aperto sentido.

Poesia vazia de conteúdo
Cheia de emoção, entusiasmo
Misto de nada e excitação.

Sexual ou não, é-o por não o ser
Estando possuído por um demónio
O pecado consumindo os deuses do próprio Olimpo.

Cheio de gana invoco
Sê meu e meu.
A isto te provoco.

domingo, 2 de fevereiro de 2014

Interjeição.

Não há raiva que se me compare
Não há tempo que te não leve
Haverá algo em que eu não pare?
Oh, sou eu assim tão leve.

Perdido na loucura do céu
Perdição, uma vida de cão
Vivendo bem num universo de bréu.
Oh, eterno coração.

Pudesse eu ser o que não sou.
Estar onde não estou.
Ver o que não vejo.
Sentir o que sei.

Não há nada que sinta que saiba,
Saibo que sinto mas não sei.
Penso por não saber e sei por não sentir.

Acabo a vida num suspiro intermitente.
Começo a morte com um riso demente.

Há então um sucesso chamativo.
Um processo putativo.
Vítima de um ignóbil destino.
Sendo eu o mesmo pobre espírito.

Perdido na vida em que não me fui.
Não estou e não sei.
Não vivi e sei.
Perdi-me na sapiência de não saber.

Oh.

domingo, 12 de janeiro de 2014

Coexist.

I did not, I did not know
I vanished inside myself
One second is not enough though.

I grow and grow and grow
A show below the snow, oh!

One kiss upon the brow
Oh Poe my lord,
I'm lost in this big board,
Aboard not leaving this place,
This ward.

Not knowing I kissed,
and hissed.

I wanted to coexist
I wanted to preexist.

Don't let me leave.
Resist, I can't decieve
The one I take as thieve.

Let me achieve that who was not there.
Reach that who did not exist.
Is it fair?
I should not insist.

quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Saudade.

Dissertei-me de mim
Afastei-me de ti
Voltei assim
Porque assim me destruí.

Não há palavra que o diga
Não há frase que o descreva
Não há ninguém que se atreva
A repetir a minha cantiga.

A música parou
O sangue escorreu
Não batia, não havia
Estremecia, entorpecido.

Um boicote, uma mascote,
Tenho uma vida que não dói
Uma dor que não vive
Não sei se sou ou se corrói.

Oh bela consciência
Tal sereia cantas
Não tanto me encantas,
Para abraçar a ciência.

Fiquei dorido
Ressequido, sofrido mas
Nada era o que me prendia a mim
Ao contrário embora
De tudo o que me prendia a ti.

No passado ficou,
E no passado voltou.
O passado é o presente
Confundido com o amanhã.

Oh que tudo volte ao nada!

Que tudo exista antes de agora!

Não aguento a falta que sinto
Uma saudade injustificada
Não havia uma única lágrima.

Nada chorei, nada lembrei
O tempo separou-nos e
O fado era tudo
Era eu,
Eras tu,
Éramos nós e o mundo e a vida.

O futuro éramos nós quando tudo era pouco.
Quando tudo era o nada.

Uma guitarra tocou e uma voz soou.
Antes fosses tu.
Antes fosses tu.