sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Vendaval.

Devia eu tornar-me alguém?
Quem eu fosse
Mesmo que ninguém,
Algo que o vento trouxe,
Apimentado de doce.

Uma aventura, uma cruzada
Um abraço na almofada
Um adeus na alvorada
Na amurada, os seus
Braços de semideus.

Há algo que eu não seja?
Um alguém que festeja,
Uma beata na igreja,
A galinha que cacareja.

Oh, que desespero
Eu que acelero e desacelero,
Desconsidero-me, mas quero
O que exagero, o que eu modero
e reconsidero, mas tão sincero!

Parei e pensei.
Nada era mais do que eu
Eu era o rei fora de lei.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Conto de fadas.

Dizer-te o que acho, era de mais
Dizer-te o que penso...
Não seria isso estabelecer relações?

Negativismo meu
Aparte o teu, que de meu nada é
Seria meu se meu fosses.

Positivismo nosso
Que nosso não o há
Sendo que nós é fábula
Conto de fada pra contar.

Não seria então a fada real
Se assim a fizéssemos?

Torná-la-emos real então.
Espero.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Mendigo.

A noite chega
E uma brisa de esquecimento
Luta contra uma ignóbil
Brisa de aconchego.

Perdido na liberdade da mente
Um mendigo senta-se nas lembranças
A vida e a morte
Não são mais que melodias.

O dia não chega e a noite permanece
Uma infinidade de nada
O vazio de tudo ser
Ou de o desejar
Ou sonhar.

Não vê nada 
Mas tudo é claro
O mundo gira em torno do que se é.

A lucidez ataca uma flor inocente
Arranca-lhe as pétalas
Queima as folhas
Fortalece o caule
Parte a raiz.

Nada é quando tudo quer ser
A flor é o mendigo
O mendigo é a vida
A vida que ninguém tem.

Retiro.

Sei de algo,
Mas não o sei dizer.
Sinto-o, sem sequer sentir.

Quem será que sinto
Se não sei verdadeiramente ?
Quem não agrado,
Se o coração não mente.

Pena que tenho
De sentir que não sinto
De saber que não sei
Mas querer o que sinto,
Sentir o que quero.

Quero,
Quero-te e não posso,
Não queria e não sinto.

Mas não há livre-arbítrio.
Não dá pra escolher.
Quero viver.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Mártir.

Estarão prontos para o futuro?
Aqueles que vêem com os olhos de não ver
Os que vêem o que não há
Os outros que estão onde os outros não hão.

Não há quem saiba
Não há quem seja
Não há quem tenha o que eu visto
Não há quem sinta o que eu vi
Não há
Quem?

Sou eu o mártir dos outros?
Os outros que não sou eu
Os que não existo
Que não os há.

Não tenho se não nada
Não sou senão tudo.

Salva-me.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Importa.

Ilibei-me de emoções, cruas
Desnudei-me em mim mas não vi
Não sei quem sou e amo quem não sou.

Não és eu
E por isso mesmo.