quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Faceless.

Estão a ver-nos
Perseguem-nos nas trevas
Prendem-nos à escravatura
Com tanta amargura.

Oh, que mal fizémos nós ?
Somos mal-amados
Mal-paridos, mal construídos.

Somos uma máquina mal oleada
Vigiada por mecânicos demoníacos.
Uma intrépida comitiva,
de diabos em formação.

Não há salvação
Não existe escapatória.
Eles espreitam nas curvas,
Eles vigiam-nos com os nossos olhos.

Foge.
É tarde para ficar.

sábado, 26 de outubro de 2013

Corvo.

Um corvo negro esvoaçou 
O bater das suas asas ecoou
Tudo parou.

Não necessitaria de asas para ser feliz
Não peço o vento para me ajudar
O que queria era voar.

Porque não voo eu?

sábado, 19 de outubro de 2013

Somnium.

Desejo ser um eu convicto
Quero ter controlo
Quero saber de mim
Não ter consolo
Ser um ser sem fim.

Quero saber controlar
Não manipular
Viver o que quero
Sonhar o que vivo
Viver o sonho.

Mas a realidade não é isto
O sonho não vive.


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Cinco minutos II

Dormitei vazio na cama
No chão imenso, molhado e cansado.

Não havia nada que fosse eu
Antes eu que nada fosse.

O céu vibrava melancólico
Não estava escuro, não estava claro
O mar saltava com um brilo alcoólico.

Tudo estava errado
E eu sorria.

Cinco minutos.

Uma imensidão de nada abate-se sobre mim.

Um pesar profundo, soturno
Imenso, imundo
Uma cacofonia de gíria, de gritos,
De pássaros, de ritos
O som das árvores, da tecnologia
O barulhar da permanente analogia
O indescolável sufoco
Da existência humana.

O indubitável nascer
Morrer, viver, tratar, domar
Uma harmonia falsa de pantonímias

Agudez, dilacerado
Sinto-me internado pelo meu próprio ser
Um ser que tanto é
Mas que nada deixou de ser.

Com isto pensei, chorei e amei
Não dá um passo mais
Não há caminho, não há estrada
Não há indicação que me faça ir

Que me faça ir em direção ao fim,
Que me faça fugir com direção ao infinito onde nunca chegarei
Que me faça atingir o inatingível.

Um objetivo efémero 
Escrito com os caracteres de deus
Um deus tão tirano,
que de tudo tirou a perfeição.
Até de si.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

anima.

Não estás então
Tu preso ?
Não estarei eu perdido ?
Num universo surpreso
Uma infinidade de tudo
O tudo adoecido.

Sou quem não sou
Quero ser o que não és
O que não dou
Que não fui

Não há eu que me resista
Não há eternidade que me queira
Não há uma única algibeira
que me contenha ou que me exista.

Quero chorar
Quero sentir uma lágrima que seja
Sentir o que não há
Sentir o que em mim fraqueja.

Não tenho nada
Sou vazio, frio e mudo
Um ser perdido
Um ser descabido

Clamo aos deuses da paixão
Vénus, Afrodite, Cupido
Oiçam as minhas preces
Estou adormecido,
Falecido no caixão.