sexta-feira, 19 de julho de 2013

Romance

Romance, who loves to nod and sing
With drowsy head and folded wing,
Among the green leaves as they shake
Far down within some shadowy lake,
To me a painted paroquet
Hath been - a most familiar bird-
Taught me my alphabet to say -
To lisp my very earliest word
While in the wild wood I did lie,
A child - with a most knowing eye.

Of late, eternal Condor years,
So shake the very Heaven on high
With tumult as they thunder by,
I have no time for idle cares
Through gazing on the unquiet sky.
And when an hour with calmer wings
It's down upon my spirit flings -
That little time with lyre and rhyme
To while away - forbidden things!
My heart would feel to be a crime
Unless it trembled with the strings.

Edgar Allan Poe, 1929


União.

De certo modo,
O tempo não é um incómodo.
Junta-nos, recria-nos
No entanto, separa-nos.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Ego.

Trato de matar partes de mim
Desfolhar-me
Renovar quem sou
Enfim.

O arredor sofre
As consequências da mudança
Sofre
As alterações da personagem.
O eu alterado
A alteração de um eu,
Que não me pertence realmente.

Uma teoria que não mente
mas sente
Uma multiplicidade ascendente
Desdobro-me em mil.

Num contexto febril
Em que nada parece ser o que é
(Ou então padece do mesmo mal
E é o que não deve ser)
Produz um resultado senil
De onde só resulta o ato de bendizer.

Bendizer o homem
Que peca e corrompe
Assassinar o deus
Que condena
Um super-homem.

Multiplicado em cem
Um exército de seres 
Concentrados num só
Munidos de super-poderes

Isto tudo
Um solilóquio de palavras
(Não só palavras mas ações
Emoções perdidas no tempo
Sentimentos recuperados
Sofrendo alucinações)
Um monólogo de eterna simbologia
Analogia hieroglífica 
De uma magia há muito perdida.
Que todos têm,
Mas ninguém a sabe.

O poder de tudo ser
Enquanto se nada é.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Diamante.

O mineral que brilha
Inquebrável
Indestrutível
Uma eterna armadilha.

Porém
Tudo tem fragilidades
Quando se fala em saudades
Fala-se de alguém que as tem.

Alguém que se destrói
Alguém que se quebra
Frágil
Um herói que se rói
Que se mói, corrói, destrói.
Dói.

Dói pensar
Que o mais indestrutível dos seres
Seja frágil.

Oh saudade,
Que me consomes 
Que me chamas
Leva-me de uma vez.
Leva-me para onde devo ir.
Possui-me,
Mete-me em chamas,
Mata-me, Fulmina-me.

Não posso,
Não podes.
Estamos condenados
À pobre existência.

Uma pitada de decadência,
Uma confidência na delinquência,
Demência na ausência
Falta de carência.
Obediente, impaciente,
Espero pela ambivalência
Da violência.

A perdição tomou conta de mim.
Oiço sons que me chamam,
Oiço vozes, oiço as sombras
Oiço demónios que me ama,
Uma sinfonia de gritos que me aterroriza
Simultaneamente me atrai.
Um circo de mortos,
Repleto de alegria negra
Felicidade falsa
Praxe da sociedade.

Eu amo-te, 
Amo-te decadência.
Amo-te demência.
Sei o que sinto
Não sei o porquê,
Será coincidência?

Não sinto os membros,
Tenho o cérebro dormente,
O tronco morto.
O meu cérebro canta antigas vitórias
Glórias passadas
Orgulhos inexistentes.

Sinto um calor
Um calor interior
Superior ao do exterior.
Um ardor que corrói
E destrói.
Não por existir, mas por ser incógnito.

Divago assim na minha perdição
A germinação da minha fulminação.
O Inferno deu o seu veredicto.
Não tenho lugar em qualquer lugar.

Estou condenado a viver na Terra.
Onde o terreno dói.
Corrói, mata, rói.
Quando mais pensamos ser indestrutíveis
Confiamos na resistência
Da nossa alma imortal.

Vivemos mortos
Nascemos para morrer
Morremos para viver.

Numa existência cíclica
Que tudo de bela tem.
Mas que tudo retém
Porém destrói, também.




domingo, 7 de julho de 2013

il contratto.

sei felice?
mi vuoi bene?
il contratto è stato fatto tra il Paradiso e l'Inferno
il Paradiso voleva tutto
l'Inferno ha tutto

perdizione ha preso il controllo
ci prendiamo più cura di noi stessi
è tutta una bugia

Linguam non refert,
Cum demon moderatur
et Deus retinet, in vigiliis
damnati futuri coniectura


sexta-feira, 5 de julho de 2013

Asco.

Há um sentimento universal
Amor de mãe
Amor de filho
Supostamente uma emoção magistral.

Mas há então uma exceção
Em que a mãe esquece o filho
O filho detesta a mãe
Tudo sem que haja compreensão.

E então cresce a tensão
Onde o filho não sabe viver
E a mãe não vive sequer
Sem hipótese de confraternização.

O tempo passa
A relação, gasta,
Não se trata de nada mais nada menos,
Do que uma morte que se arrasta.
Não física, mas relacional.

Com tamanha disparidade
A mãe descarrega no filho
O filho farta-se da mãe
Uma relação com prazo de validade.

O filho nasce
O filho cresce
O filho morre por duas vezes
E de tudo o que se passa,
Nada vê
Uma relação que ecrudesce.

O tempo passou
A mãe não repara
O filho fugiu
Não há alternativa
Não há escolha.

A mãe morre
O filho vive
Já não se conhecem.

O que era um sentimento universal
Tornou-se um sentimento puramente genital.
Em que a relação se assenta
Sobre o o útero onde foram criadas as primeiras células,
De um filho mártir
E de uma mãe desatenta.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Diligência.

Uma atitude apressada
O plesbiscito da nobreza
O atentado à última alvorada
De um clero imerso na pobreza.

Diverte pensar
Que a melancolia entretém
Sendo a melancolia o tédio.

Aborrece então
Uma vida sem remédio
Como um nada
Um nada que nada num universo infinito.

É então isto a insurgência
De um povo destruído
Uma sociedade danificada
Um mundo vencido

Onde não há esperança
Quando não há bonança
Porque não há mudança.