sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Vendaval.

Devia eu tornar-me alguém?
Quem eu fosse
Mesmo que ninguém,
Algo que o vento trouxe,
Apimentado de doce.

Uma aventura, uma cruzada
Um abraço na almofada
Um adeus na alvorada
Na amurada, os seus
Braços de semideus.

Há algo que eu não seja?
Um alguém que festeja,
Uma beata na igreja,
A galinha que cacareja.

Oh, que desespero
Eu que acelero e desacelero,
Desconsidero-me, mas quero
O que exagero, o que eu modero
e reconsidero, mas tão sincero!

Parei e pensei.
Nada era mais do que eu
Eu era o rei fora de lei.

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Conto de fadas.

Dizer-te o que acho, era de mais
Dizer-te o que penso...
Não seria isso estabelecer relações?

Negativismo meu
Aparte o teu, que de meu nada é
Seria meu se meu fosses.

Positivismo nosso
Que nosso não o há
Sendo que nós é fábula
Conto de fada pra contar.

Não seria então a fada real
Se assim a fizéssemos?

Torná-la-emos real então.
Espero.

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Mendigo.

A noite chega
E uma brisa de esquecimento
Luta contra uma ignóbil
Brisa de aconchego.

Perdido na liberdade da mente
Um mendigo senta-se nas lembranças
A vida e a morte
Não são mais que melodias.

O dia não chega e a noite permanece
Uma infinidade de nada
O vazio de tudo ser
Ou de o desejar
Ou sonhar.

Não vê nada 
Mas tudo é claro
O mundo gira em torno do que se é.

A lucidez ataca uma flor inocente
Arranca-lhe as pétalas
Queima as folhas
Fortalece o caule
Parte a raiz.

Nada é quando tudo quer ser
A flor é o mendigo
O mendigo é a vida
A vida que ninguém tem.

Retiro.

Sei de algo,
Mas não o sei dizer.
Sinto-o, sem sequer sentir.

Quem será que sinto
Se não sei verdadeiramente ?
Quem não agrado,
Se o coração não mente.

Pena que tenho
De sentir que não sinto
De saber que não sei
Mas querer o que sinto,
Sentir o que quero.

Quero,
Quero-te e não posso,
Não queria e não sinto.

Mas não há livre-arbítrio.
Não dá pra escolher.
Quero viver.

domingo, 8 de dezembro de 2013

Mártir.

Estarão prontos para o futuro?
Aqueles que vêem com os olhos de não ver
Os que vêem o que não há
Os outros que estão onde os outros não hão.

Não há quem saiba
Não há quem seja
Não há quem tenha o que eu visto
Não há quem sinta o que eu vi
Não há
Quem?

Sou eu o mártir dos outros?
Os outros que não sou eu
Os que não existo
Que não os há.

Não tenho se não nada
Não sou senão tudo.

Salva-me.

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Importa.

Ilibei-me de emoções, cruas
Desnudei-me em mim mas não vi
Não sei quem sou e amo quem não sou.

Não és eu
E por isso mesmo.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Diretriz.

Que vida será a minha
Que de tudo o que tenho tudo tiro
Sem nada ficar que me seja.

Oh meu eterno Ser
Salva-me desta existência.
Leva-me por aí,
Por onde fui e onde nunca estive.

Estou pesado e cansado, amigo.
Não consigo mais que isto.
Os músculos fraquejam e as pedras rolam,
Quebram, partem, chocam e caem na água,
Que tudo engole e tudo esconde.

Afundo-me então em tudo o que sou,
Mas o que sou eu senão uma poça de lama?

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Doença.

Diretamente
Ao encontro do que me esperava de um outro lado.
Não esperei, nunca o terei, nunca o serei.
Quem sou?

Vivo a vida de quem não existe por si.
Existo só num só mundo,
Onde a vida não a há.
A escuridão penetra-me o espírito e a lucidez ataca-me a carne
Enquanto eu derreto perante a cadeira dos réus.

Pára!
Enterra-me rápido!

Não seja a terra um refúgio da Terra.
Não seja eu devorado pelo vírus da Humanidade.
Não tenha eu demasiado de mim para ser.

Quem terei de matar para atingir a liberdade ?
Um tiro atinge-me e eu sinto-me a parar
Mas parar de quê ?, meu deus se é que hás
Ajuda-me ou tortura-me.
Porquê a indiferença se essa é a pior arma ?

Rápido!
Mais rápido!

Já sinto o cheiro do consumo!
Um capitalismo vitalício meu e teu e nosso, nosso!
Ah que beleza o aroma da tenra e macia morte
Terrena e próxima, tão longíqua quanto o próprio Fado.

Oh, tristeza porque me escolheste ?
Que aborrecimento o eu ser!
Mestre, meu Mestre, que não o és para outros mas para mim o és.
Guia-me até ao futuro.

Aaaaaaaaaah
Enterra, mais terra!
Mais terra!

Os grãos de vida preenchem-me o espaço que por outros não poderia ser preenchido.
Estou preso em mim mesmo, que tédio,
Viverei livre nesta angústia de livre não ser
Que triste remédio este.

Mais, mais!

Quase.
Está quase.

Ajuda-me, levanta-me.
Derruba-me.
Não, atira-me.
Por favor, não!

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Canção de embalar.

"Esta noite não vou
Lavar os dentinhos.
Vou cagar
E meter os dedinhos."

Poema de Ana Catarina Lourenço

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Faceless.

Estão a ver-nos
Perseguem-nos nas trevas
Prendem-nos à escravatura
Com tanta amargura.

Oh, que mal fizémos nós ?
Somos mal-amados
Mal-paridos, mal construídos.

Somos uma máquina mal oleada
Vigiada por mecânicos demoníacos.
Uma intrépida comitiva,
de diabos em formação.

Não há salvação
Não existe escapatória.
Eles espreitam nas curvas,
Eles vigiam-nos com os nossos olhos.

Foge.
É tarde para ficar.

sábado, 26 de outubro de 2013

Corvo.

Um corvo negro esvoaçou 
O bater das suas asas ecoou
Tudo parou.

Não necessitaria de asas para ser feliz
Não peço o vento para me ajudar
O que queria era voar.

Porque não voo eu?

sábado, 19 de outubro de 2013

Somnium.

Desejo ser um eu convicto
Quero ter controlo
Quero saber de mim
Não ter consolo
Ser um ser sem fim.

Quero saber controlar
Não manipular
Viver o que quero
Sonhar o que vivo
Viver o sonho.

Mas a realidade não é isto
O sonho não vive.


quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Cinco minutos II

Dormitei vazio na cama
No chão imenso, molhado e cansado.

Não havia nada que fosse eu
Antes eu que nada fosse.

O céu vibrava melancólico
Não estava escuro, não estava claro
O mar saltava com um brilo alcoólico.

Tudo estava errado
E eu sorria.

Cinco minutos.

Uma imensidão de nada abate-se sobre mim.

Um pesar profundo, soturno
Imenso, imundo
Uma cacofonia de gíria, de gritos,
De pássaros, de ritos
O som das árvores, da tecnologia
O barulhar da permanente analogia
O indescolável sufoco
Da existência humana.

O indubitável nascer
Morrer, viver, tratar, domar
Uma harmonia falsa de pantonímias

Agudez, dilacerado
Sinto-me internado pelo meu próprio ser
Um ser que tanto é
Mas que nada deixou de ser.

Com isto pensei, chorei e amei
Não dá um passo mais
Não há caminho, não há estrada
Não há indicação que me faça ir

Que me faça ir em direção ao fim,
Que me faça fugir com direção ao infinito onde nunca chegarei
Que me faça atingir o inatingível.

Um objetivo efémero 
Escrito com os caracteres de deus
Um deus tão tirano,
que de tudo tirou a perfeição.
Até de si.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

anima.

Não estás então
Tu preso ?
Não estarei eu perdido ?
Num universo surpreso
Uma infinidade de tudo
O tudo adoecido.

Sou quem não sou
Quero ser o que não és
O que não dou
Que não fui

Não há eu que me resista
Não há eternidade que me queira
Não há uma única algibeira
que me contenha ou que me exista.

Quero chorar
Quero sentir uma lágrima que seja
Sentir o que não há
Sentir o que em mim fraqueja.

Não tenho nada
Sou vazio, frio e mudo
Um ser perdido
Um ser descabido

Clamo aos deuses da paixão
Vénus, Afrodite, Cupido
Oiçam as minhas preces
Estou adormecido,
Falecido no caixão.

sábado, 28 de setembro de 2013

Contar-vos-ei

Contar-vos-ei
Uma história que eu sei
Uma história sem castelo
Nem princesa, nem rei.

Não tem céu
Mar, rio
Não tem momentos de bréu
Nem vislumbres de brio.

Não há felicidade,
Não há tristeza
Só uma cidade
Onde reina a incerteza.

A relva não é verde
Os pássaros não cantam
Não há filho que herde
Tesouros que se agigantam.

Há só uma certeza:
No meio de tanta pobreza
Não uma personagem
Mas uma bela miragem.

sábado, 21 de setembro de 2013

Ferro e Níquel.

"He who has a why to live can bear almost any how."

Génios,
Aproximai-vos.
Eis que o circo da tortura começou.
Tenho um leão depenado e uma garça perneta.
Não parece isto uma grande peta?

A realidade confundiu-se
A loucura tomou conta.
A lucidez que me amedronta.
A luz queima-me os olhos.

Luz.
Oh luz,
Tira-me do bréu
Salva-me do crepúsculo
Não há saída.

Tal como não houve entrada.

Procurei o objetivo
Um só.
Não havia.
O meu corpo vagueava
Uma causa perdida,
Uma alma que voava.

Um auto-desentendimento
(provocado ou não
sentido ou não)

Não há senão o não.
A força que move.
Negativo.
Mas forte.

domingo, 15 de setembro de 2013

Dictateur.

Ho bisogno di sapere di me.
Ho bisogno di sapere su di te.
Ho bisogno di vita.
Voglio essere vivo.

A emancipação do ser começou.
não há senão luz
não houve senão som.
Uma existência putativa que base não teve.
A ação que não se reproduz,
O típico maçon.

Uma misoginia crónica,
Herdada da parente mais próxima da vida.

"O chão que pisas sou eu."

Não há eu que esteja acima do chão,
quando tudo o que procura
é uma instância de abnegação.

Não há sentido que me prenda.
Quando a prenda são apenas minutos
Horas, dias
De uma horrenda oferenda,
Tu em trajes diminutos
Queimado enquanto rias.

Sadismos à parte,
(E sonhos tão pesadelos quanto a arte)
uma alienação me provoca.
Ameaça-me e intimida-me,
enquanto me sufoca
toca e retoca.

Invoca então um demónio perdido
Numa doca isolada.
Tudo arte barroca.
Perdida numa Itália espanhola
Numa Espanha acabada.

A guerra começou.
Com o ser que se emancipou.
E tudo mudou.

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Turbilhão - Undo my Soul

Não foste tu
Fomos nós
Contigo, comigo.

Tirei do verde todo o azul
Com o amarelo fiquei.
Juntei todo o encarnado que tinha.
E com laranja escarlate terminei.

Não foste tu.
Mesmo.
Fui eu que misturou.
Fui eu quem confundiu o preto e o branco.
E não,
Não acabou.

A discrepância com que te vejo
Através desta lente suja
Imundície com amarelejo.
Voo como a coruja
Que presa se mantém,
No friso de um azulejo.

A beleza é estática.
Embelezar-se um suicídio é
E seguindo a sistemática,
Não passar de um rodapé.

Não passar de uma sequência de cores.
De uma mistura de figuras.
Ou o contrário?
Não seremos todos um friso desprovido de beleza,
E por isso vivemos?

A beleza é a morte
A morte de uma vida.
A vida só é bela
Quando se dela desatrela.

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Magia.

Atordoado
Abalroado por uma discórdia
Ditando um encantamento terminal
Um canto à vida
Um feitiço para a morte.

Podia eu resistir ao vazio ?
Um vazio preenchido por um nada
Que de tudo se enche,
Quando ao tudo se dá entrada.

Não há morte sem dor.
Ou haverá?
Uma dor que não cause a morte,
Ou a morte que não cause dor.

Fará sentido a morte ser o vazio ?

De tudo se enche o nada quando dele o tudo tiramos.
 Simples matemática.
A verdade está no sossego.

A paz que tudo trás.
Oh que belo é o mundo!
Que belo é o céu, que bela é a água!
Não será também bela a morte?
Veio tudo do mesmo fundo.

Ironia
Veio tudo do fundo do mundo.
Tudo isto vindo
Do suspiro de um moribundo.

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Red Riding Hood.

A neve que congela cai
Faz tremer um ser
Que com tanto se descai
Num abismo de poder.

Trepidam as chamas da tortura
Que iluminam a criatura,
Infértil e imóvel.

A criatura cresce.
Abomina o seu semelhante.
Deseja matar.

Oh aberração!
Serás tu alguma vez
Digno de possuir um coração ?

Num ápice
O monstro acordou.
Incendiou as cidades prósperas.
Matou a monotonia.
Descoordenou a sintonia.

E num momento de pura agonia,
começou a autofobia.

sábado, 3 de agosto de 2013

Nexo.

Feixes de luz 
Numa vida refratados,
Um deles que se reconduz
Outros que se mantém apartados.

A sanidade
Que outrora manchava o chão
Agora tornou-se o teto
De uma imensa ilusão.


sexta-feira, 19 de julho de 2013

Romance

Romance, who loves to nod and sing
With drowsy head and folded wing,
Among the green leaves as they shake
Far down within some shadowy lake,
To me a painted paroquet
Hath been - a most familiar bird-
Taught me my alphabet to say -
To lisp my very earliest word
While in the wild wood I did lie,
A child - with a most knowing eye.

Of late, eternal Condor years,
So shake the very Heaven on high
With tumult as they thunder by,
I have no time for idle cares
Through gazing on the unquiet sky.
And when an hour with calmer wings
It's down upon my spirit flings -
That little time with lyre and rhyme
To while away - forbidden things!
My heart would feel to be a crime
Unless it trembled with the strings.

Edgar Allan Poe, 1929


União.

De certo modo,
O tempo não é um incómodo.
Junta-nos, recria-nos
No entanto, separa-nos.

terça-feira, 9 de julho de 2013

Ego.

Trato de matar partes de mim
Desfolhar-me
Renovar quem sou
Enfim.

O arredor sofre
As consequências da mudança
Sofre
As alterações da personagem.
O eu alterado
A alteração de um eu,
Que não me pertence realmente.

Uma teoria que não mente
mas sente
Uma multiplicidade ascendente
Desdobro-me em mil.

Num contexto febril
Em que nada parece ser o que é
(Ou então padece do mesmo mal
E é o que não deve ser)
Produz um resultado senil
De onde só resulta o ato de bendizer.

Bendizer o homem
Que peca e corrompe
Assassinar o deus
Que condena
Um super-homem.

Multiplicado em cem
Um exército de seres 
Concentrados num só
Munidos de super-poderes

Isto tudo
Um solilóquio de palavras
(Não só palavras mas ações
Emoções perdidas no tempo
Sentimentos recuperados
Sofrendo alucinações)
Um monólogo de eterna simbologia
Analogia hieroglífica 
De uma magia há muito perdida.
Que todos têm,
Mas ninguém a sabe.

O poder de tudo ser
Enquanto se nada é.

segunda-feira, 8 de julho de 2013

Diamante.

O mineral que brilha
Inquebrável
Indestrutível
Uma eterna armadilha.

Porém
Tudo tem fragilidades
Quando se fala em saudades
Fala-se de alguém que as tem.

Alguém que se destrói
Alguém que se quebra
Frágil
Um herói que se rói
Que se mói, corrói, destrói.
Dói.

Dói pensar
Que o mais indestrutível dos seres
Seja frágil.

Oh saudade,
Que me consomes 
Que me chamas
Leva-me de uma vez.
Leva-me para onde devo ir.
Possui-me,
Mete-me em chamas,
Mata-me, Fulmina-me.

Não posso,
Não podes.
Estamos condenados
À pobre existência.

Uma pitada de decadência,
Uma confidência na delinquência,
Demência na ausência
Falta de carência.
Obediente, impaciente,
Espero pela ambivalência
Da violência.

A perdição tomou conta de mim.
Oiço sons que me chamam,
Oiço vozes, oiço as sombras
Oiço demónios que me ama,
Uma sinfonia de gritos que me aterroriza
Simultaneamente me atrai.
Um circo de mortos,
Repleto de alegria negra
Felicidade falsa
Praxe da sociedade.

Eu amo-te, 
Amo-te decadência.
Amo-te demência.
Sei o que sinto
Não sei o porquê,
Será coincidência?

Não sinto os membros,
Tenho o cérebro dormente,
O tronco morto.
O meu cérebro canta antigas vitórias
Glórias passadas
Orgulhos inexistentes.

Sinto um calor
Um calor interior
Superior ao do exterior.
Um ardor que corrói
E destrói.
Não por existir, mas por ser incógnito.

Divago assim na minha perdição
A germinação da minha fulminação.
O Inferno deu o seu veredicto.
Não tenho lugar em qualquer lugar.

Estou condenado a viver na Terra.
Onde o terreno dói.
Corrói, mata, rói.
Quando mais pensamos ser indestrutíveis
Confiamos na resistência
Da nossa alma imortal.

Vivemos mortos
Nascemos para morrer
Morremos para viver.

Numa existência cíclica
Que tudo de bela tem.
Mas que tudo retém
Porém destrói, também.




domingo, 7 de julho de 2013

il contratto.

sei felice?
mi vuoi bene?
il contratto è stato fatto tra il Paradiso e l'Inferno
il Paradiso voleva tutto
l'Inferno ha tutto

perdizione ha preso il controllo
ci prendiamo più cura di noi stessi
è tutta una bugia

Linguam non refert,
Cum demon moderatur
et Deus retinet, in vigiliis
damnati futuri coniectura


sexta-feira, 5 de julho de 2013

Asco.

Há um sentimento universal
Amor de mãe
Amor de filho
Supostamente uma emoção magistral.

Mas há então uma exceção
Em que a mãe esquece o filho
O filho detesta a mãe
Tudo sem que haja compreensão.

E então cresce a tensão
Onde o filho não sabe viver
E a mãe não vive sequer
Sem hipótese de confraternização.

O tempo passa
A relação, gasta,
Não se trata de nada mais nada menos,
Do que uma morte que se arrasta.
Não física, mas relacional.

Com tamanha disparidade
A mãe descarrega no filho
O filho farta-se da mãe
Uma relação com prazo de validade.

O filho nasce
O filho cresce
O filho morre por duas vezes
E de tudo o que se passa,
Nada vê
Uma relação que ecrudesce.

O tempo passou
A mãe não repara
O filho fugiu
Não há alternativa
Não há escolha.

A mãe morre
O filho vive
Já não se conhecem.

O que era um sentimento universal
Tornou-se um sentimento puramente genital.
Em que a relação se assenta
Sobre o o útero onde foram criadas as primeiras células,
De um filho mártir
E de uma mãe desatenta.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Diligência.

Uma atitude apressada
O plesbiscito da nobreza
O atentado à última alvorada
De um clero imerso na pobreza.

Diverte pensar
Que a melancolia entretém
Sendo a melancolia o tédio.

Aborrece então
Uma vida sem remédio
Como um nada
Um nada que nada num universo infinito.

É então isto a insurgência
De um povo destruído
Uma sociedade danificada
Um mundo vencido

Onde não há esperança
Quando não há bonança
Porque não há mudança.

quinta-feira, 27 de junho de 2013

Deturpação.

Delimitados por um só muro
Fortalecidos pela divisão que nos tortura
Entorpecidos,
Perante a garra do poder.

De um utilizador gasto
Nasce um criador vasto
Um deus inato
Um poder abstrato.

Diligências de uma comunidade perdida
(tão menos como sociedade,
tão menos como absolvida)
Um resquício de liberdade.

A revolução não começou.
A castração do Homem tardou.

Uma eterna espécie,
(não tão eterna quanto isso)
Apresenta-se no pódio da solicitude
 Um tão querido perdão
Perdido com a virtude.

quinta-feira, 13 de junho de 2013

Lapso.

"Não posso apaixonar-me"
Dizia uma alma consumada em dores 
Seria essa a barreira que a protegia ?
Ou seria só uma das armadilhas?

Não haveria então coisa mais bela do que o amor?
Mas pois então
Não se pode confiar em algo
Que decerto nos trás dor.

Seja agora ou depois
Um dia ou à noite
Não haverá infinidade
Não há nada que nos agrade.

No entanto
A felicidade não vem e o coração estagna.
A água da alma apodrece.
Vermes e podridão
Consomem os alicerces das defesas.

Não ataca de fora,
Ataca por dentro.

E assim nasce uma nova vontade.
As defesas abrem-se
Destruídas.
Uma nova disponibilidade

Não espreita ninguém
Porém a alma sai à procura de alguém.
Perder-se-á.
Outra vez.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Homícidio.

Um quarto preenchido
De memórias vazias

Uma vida de merda com um fundo de ouro
Um fundo manchado 
Manchado eternamente.

Não há eternidade na invisibilidade
Não há nada que seja eterno.
Ou melhor
Haverá.

Quando não há escolha
Quando a multidão se amotina contra ti
Quando o espetro da realidade 
É a vida que tu queres ter
Mas tens de uma forma que não existe.

Sinto vontade de matar tudo e todos
Matar tudo o que existe
Garantir que nada mais existirá.
Tornar-me um anti-deus.

Devia aniquilar a existência do Universo.
Para que assim,
Existisse algo eterno: o nada.

domingo, 2 de junho de 2013

Robert.

Robert woke up.
That night he had dreamt about something weird, something he could not remember.but it had felt so real.
That day was normal, and the after, and even the next one. A whole month has passed and he could not forget that night where reality and dreams hat gotten mixed in his mind and left nothing behind. Or so he thought. He consulted psychics and psychologists in order to know what had happened.
One day, a friend suggested: "you should try hypnosis" and so did he.

You'll feel dizzy

You're falling asleep

Remember, go back in time.

Live it.

And so there he was.
All he felt was that he was going through a huge déja vu. Everything felt real again, the world, there it was. And then, slowly, the surroundings became lucid and everything was black. Not just black but the darkest black he had ever seen. The floor was cold and humid. A fresh and sublime wind was blowing. Drops of some liquid were falling... slowly, as if building a rythim. A frightening sense of calm got into Robert's mind. He tried to get up but his legs were tied to each other causing him to fall on the hard cold, stone floor. All he was wearing was a t-shirt and shorts, so he started shaking involuntarily. The wind was now colder than ever and the floor was getting wetter as if that room was flooding. Panic got into him. He crawled, in a desperate attempt to find a way out of there but all he found was a stone disaggregated from the floor and its place, now filled with the cold liquid. He drinked that. A chill went through his body and an odd feeling got him. Something was wrong, that didn't feel like water. It was liquid but tasted irony. He couldn't even see his hands. He tried rubbing the rock on the floor so some spark could briefly illuminate that space. Not succeeded. The floor was too wet. Robert lied down on his back, with no energy, Everything he could think of was apparently impossible and there was no way out. He screamed for help and cried. Tried to remember anything besides that dark room but it felt as if he had been there ever since he was born and, as long as he could see, until he died. 
Exactly, he thought, I'll be there as long as I'm alive, there is a way out.

Robert grabbed the rock and hit himself in the head. Grueling pain took over his body and he couldn't stop screaming. He touched his head. Blood. Strangely, the feeling of touching that was familiar and touched the liquid again, that now was flooding five inches above the floor. The liquid felt the same. The liquid was blood. Robert was now terrified. He was now about to swim in blood. Chills went over his spine as he dropped the rock and the noise eccoed. It was deafening. His ears were now unable to ear the blood dripping, his eyes were unable to see. His senses were slowly, one by one, betraying him.
Robert woke up. He had fainted because of the excruciating pain he was feeling. For a second he had hopes of waking up in a lightful place, with people, and movement. He was thirsty, hungry and hadn't opened his eyes yet, afraid of what was beyond his eyelids. After a time thinking wether he should or not open his eyes, he decided he had nothing to lose. Although, when he tried opening his eyes, nothing happened. Fear. His hands touched his eyes, or better: the gaps where before were his eyes. He felt the urge to cry but nothing happened.
I need to end this. Now

But there was no rock anymore. His heart was beating faster than ever before. Exaggerated doses of adrenaline were running through his blood. Fear and dispair were everything he could feel.
Suddenly, he had an idea. He tried to sit, but something's missing. They haven't only taken the eyes. He had nothing below his waist. Some cirurgic procedure has been made on him. He was not bleeding.Or so he couldn't feel it. Pain. Unbearable pain. A good and satisfying pain. A liberating pain he felt, when his teeth drilled his wrist's skin so deep, that a bone-on-bone sound eccoed through the room. Blood was sprinkling his face and pain no more was felt.
Robert woke up. A knife was sticked in his chest as he was lying on his back on the doctor's couch. Robert's hands were holding the knife. His head felt powerless to his right side. There he could see another body, dressed as a doctor that looked strangely familiar. The last thing Robert saw, was de dead doctor's tag:
Dr. Robert.

sábado, 1 de junho de 2013

Contraste.

Um secreto passe para o fim
Infinito fim
Onde o sentido da vida se perde
E a morte o ganha.

Terá sentido
Viver a vida sem um objetivo ?
Vivo ou Morto
Viverei.

Sobreviverei 
Até as correntes do tédio me amarrarem
Até a semente do pessimismo se instalar em mim

Estabilizarei
Os meus sonhos
Adiarei tudo para depois
E depois me arrepender.

Serei simultaneamente
O mártir e o culpado
da minha longa (ou curta) existência.

quarta-feira, 29 de maio de 2013

Dissecação.

A difração do nosso ser,
Ocupa três linhas a descrever.
Uma para a sentir
Outra para a saborear
E a última para a ver.

Sentir o vasto infinito a caber num ser
Finitamente sou
O res cogitans
O mártir do conhecimento
E a custódia da sabedoria.

Saborear a dilatação da omnipresença
A perfeição de um deus cruel
Um deus infinito,
Contendo em si todas as imperfeições.
Um deus que dorme num colchão de estrelas,
Que tortura os ácaros da inércia.

Visão
A visão impossibilitada pela escuridão do infinito.
Um coração que bate, frenético,
Audição,
O som do omnisciente,
Do tédio
Da vida que não a há
Da infinidade de seres
Mesmo sabendo que não o são.
Tacto,
Tacteando a mais profunda réstia de decência
Num mundo decadente
Num universo que decai
Numa existência que não é
Num ser que não existe.

O que é a vida, 
Sendo que a existência não passa do ser,
E o ser existe por não viver ?

segunda-feira, 27 de maio de 2013

opium.

Esfumava-se em sangue
Esvaía-se em torrentes de vento
Uma lucidez desaparecida
O escuro e verdadeiro desalento.

Uma vaga de frio percorreu as veias frias do corpo
Um corpo imobilizado
Estático
Vivo e Morto

De súbito,
O doce aroma do sangue pairava
Com amarga visão do corpo que flutuava
Um tremor visual
Uma fusão sensorial

Os sentidos,
Todos eles, enganadores

A sensação traía
O mais trágico pensamento fugia.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

scaena.

Um infame e ardente velejador
Veleja em mares sem fim
Um pobre e triste trovador
Caminha a pé a estrada.

A arte que antes era tudo
Agora é o nada.

Menosprezada, ignorada
Um mártir social.

O metafórico louco que esbraceja e esquarteja
O assassino que sorri e aniquila
Um belo pintor escondido atrás de um retrato
Um ator escondido numa máscara.

A arte não é bela para quem vê
A arte é bela para quem sente.

quarta-feira, 22 de maio de 2013

helvíti.

As chamas ardentes do fim chamam
Clamam por carne e osso palpitantes
Sangue fresco que brota
Das veias salientes.

Um pitoresco carnaval de mortos
Um desfile de ebriedades
Um monte de merda que fede perante um trono
Um trono mortal de ouro e diamantes.

Um trono que chama pelo incauto
Um trono que enterra o vivo
E ressuscita o morto.

O trono da morte que amotina em si a verdade.
Que martiriza a virtude
E estrangula a vontade.

A urgência de saída 
A impossibilidade
A porta inexistente
O labirinto de escolhas
A infinidade de obstáculos.

A saída não existia. 
A porta ter-se-ia fechado.
A vida teria acabado.
A morte teria começado.

A chama apagou-se
O circo começou. 

penitus.

Um segredo bem guardado
Atrás do piano.
Estaria ele escondido,
Ou apenas abandonado?

Um rato passava silencioso,
O vento ecoava
A sala abria-se num espaço infinito
E eu perdia-me.
Perdia-me no espaço e no tempo.

Perdia-me na vida que tinha,
Perdia-me no que me faltava.
O rato passava.
O rato vivia.

Não havia nada que não invejasse no ser.
O rato era.
Nada mais.

Porque havemos nós de ser mais do que somos?
Porquê a auto-superação,
Se não passamos de seres?

E aí a sala revelou o seu brilho vítreo,
Descobri-me então num espelho.

domingo, 19 de maio de 2013

Entalpia.

O trono da mente estático.
Dourado, esperava.
Esperava a excelência de quem dependia.
De quem vivia.
Quem suportava.

O amo, pesado, danificava o trono.
Uma racha apareceu no assento.

O trono, rachado, era agora ferro-velho.
Ouro para fusão.
Ouro para reciclagem.

Reciclagem
Daí morreu.
Renasceu.

Algo lhe aconteceu que não consta da história.
O amo esperava.
O trono reinava.

sexta-feira, 10 de maio de 2013

Rendezvous.

Indeterminado ser,
Será impossível que seja
Mais um dos que não exista?

O vento que passa, não sinto.
O aroma que cheiro, não sinto.
O sabor que saboreio, não sinto.

A visão.

Oh a visão.

O desfocado azul da perpétua liberdade apagou-se.
O escuro reina agora.
O azul esvai-se numa metafórica conversa.

Metafórica e filosófica.
Um assunto perdido no ar e apanhado por um pássaro.
Errante, 
Teria apanhado a essência de uma conversa.

Passou mais um momento.
A visão voltara e o cheiro saboreava o vento que passava.
Agradável sensação.

sábado, 4 de maio de 2013

scissilis.

O coração batia.
Um corpo caído no chão.
O fluido que dele brotava.
Viscoso
Encarnado.

A vida que dele saíra
Olhava de cima para a morte
Um espetáculo
Uma sorte.

Assassínio automático
O daqueles que matam o corpo que constroem
Uma dor própria
Uma dor solitária
Uma morte partilhada com o ser.

O ser que o é por tanto querer ser.
O ser que quer ser.
No entanto cai
Desfalece
Redobra-se e encolhe-se

Uma vez confortável
A faca de dois gumes penetrava
O veneno efetuava
Que existência saudável.

quinta-feira, 2 de maio de 2013

tralatio.

Hell calls
The eternal flame of desesperation
It has reached his beggining.

Um início que não podia,
De todo modo,
Ser esperado.

Um corpo deitado,
Ensaguentado
Molhado
Morto?

Um corpo não morre até o meterem no caixão.
A felicidade é então até aí.

Não há morte que separe o artista da sua arte.
A arte vive.
O artista vive.
Uma relação simbiótica
Eterna.

Um obrigado articula-se-lhe nos lábios
Agradecido e comovido.
Tudo o que havia sido não era outra vez.
Mudara.

quinta-feira, 25 de abril de 2013

Lindisfarne.

O eterno suplicar cessou.

Iletrado
Idolatrado
Venerado.

Era tudo o que poderia ser.
Talvez mais.
Era a transparência de um deus terreno.

Um deus adorado com a leviandade.
Com a simplicidade.

Não estava pronto.
Era tudo tão confuso.
A minha vida não era maior que a minha existência.
No entanto transcendia-a.

Uma existência completada pelo prazer da adoração.
O prazer da vitória.
O prazer da vingança.
O prazer.

Todo o prazer é bom.
Exceto aquele que a nós é tirado.
Um ser,
(outrora deus)
usado.

Utilizado para o bel-prazer de uma criatura hedionda.
Manipulado.
Não seria isso o ciclo da vida?

The rise and fall of existence
transcends the life of any god.

segunda-feira, 22 de abril de 2013

infirmitas.

Limitei o meu acesso à mente
Com um passaporte demente.
O porteiro sorria
Enquanto eu sofria.

Sussurrava palavras
Numa língua desconhecida.
Ora alto ora baixo
O porteiro já não sorria.

Um dia à noite voltei
Incompreensivelmente
O porteiro chorava.

Lutei contra a ansiedade de lá voltar.
Uma força puxava-me para entrar.
Resisti.

Tempos se passaram
A noite tornou-se dia
O dia tornou-se noite
O porteiro morrera.

A entrada emitia o seu chamamento
Ora rápido
Ora lento
Não resisti ao seu encantamento.

Surpresa mesquinha
Quando a porta,
Não era mais do que uma cova.
Será que é a minha?

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Momentum.

Um intérprete adoentado,
Uma ilícita abandonada,
Um lado despido,
Uma alma fechada.

Não sinto o que devia
O que devo não tenho
O que tenho não sinto.

Um rugido ecoa no meu ser,
Ultimando um ser
Oh ser!

Não será o ser,
A razão do meu sofrer?

Não serei.

terça-feira, 9 de abril de 2013

impotência.

I. Golpe

Um trepidar da lâmina
O momento.

O limite metálico tocara
Onde o medo não chegara.


II. Introdução

O sal entrou
Senti
Vivi.

A droga que corria no meu sangue era mais forte.
O sangue escorria.


III. Ultimatum

O cérebro mandava parar
A vida permanecia.
Tortuosa.

Cada átomo do meu corpo insistia na desordem.
O caos instalara-se.


IV. Fim.

O rasgão perpetuara-se.
A existência jamais será o que o corpo foi.
O corpo foi.

Um ténue limite separou o meu corpo da derrota.


V. Omega.

O tempo de nada serve quando da alma se trata.
A alma é eterna.
As feridas saram.
O corpo cura-se.

O limite extenuara-se e o corpo estava agora separado.
O ser flutuava no vazio.
Magoado.
Desiludido.
Esperava nunca mais viver.
Que escolha terá?

terça-feira, 26 de março de 2013

மலம்

O parasita entrou no sistema.
Instalou-se nas veias.
Aí correu com o sangue.
Invadiu-me os canais.
Entupiu-me o fígado.
Modificou-me.

O comando reagiu.
Senti.
Vivi.
Ri.
Pensei.

O pensar destruiu o que tinha construído.
Não havia nenhuma bolha.
Não havia proteção.
Eu estava à deriva.
À deriva em mim.

O que estava em mim estava agora a flutuar.
A dispersar
Presságio.
Um agoiro percorreu os neurónios.
Eu sabia o que ia acontecer.
Tinha temido isso.
Tinha sentido isso.
Tinha sabido isso.

Estava a sentir-me aberto.
O meu eu dissecava-me de dentro para fora.

Estava agora pronto para estar fora.

Não.

Tudo o que eu pensara saíra.

Não.

Era tudo o que eu temia.

Não.

A merda de proteção que eu construíra.
Destruíra-se e assim me destruíra a mim.
Estava agora exposto.
Em ruínas.

Como um belo monumento trágico.

domingo, 24 de março de 2013

veternus.

A eterna existência
Sublinha-se perante um deus corrupto
Sublima-se sob uma luz corrompida
A vida.

Não terei eu uma vida curta
Dividida pelo nada de tudo ser?

Serás tu uma completa forma de me ver?

Não estou.
Não.
Não faz sentido.

Nada está claro.
Entrei em estado de sonolência.
Quase letárgico.
Morto, sucumbindo.

Nem isso repunha as energias.
Aquelas que foram gastas pelas emoções.
Sentimentos.
Seria tão mais feliz sem sentimentos.
Ironicamente.

Gastei as palavras.
Gastei os gritos.
Gastei as estrofes, os versos.
Gastei a merda de vida em que vivo.
Desgastei-me.
E assim matei-me.

segunda-feira, 18 de março de 2013

divorsus.

Oh Ultramarino
Que me deixaste a marinar
Neste desalento.

Cantei
Chorei
Berrei

Tudo fiz para de mim te poder tirar
Permaneceste.
Ficaste alapado a tudo o que havia de mim.
Uma presença,
(diga-se desta forma)
Como que cancerígena.

Iletrado sou quando não sei o que dizer
Quando tudo está dito.
Embora falte tudo.
Tudo para falar.

Deixou-se a meio a conversa do fim
Para que houvesse sempre um início à mão.

Se não se dá proveito
Que se destrua essa porta.
Que se entupa a entrada.

Possa assim ser possível a saída.
Assim sairei.

sexta-feira, 15 de março de 2013

shrinking.

E de repente a luz apagou-se.
Ouvi o terno som do crepitar
A minha pele a queimar
A carne a chamar.
Chamar pela dor.

Oh dor
que a alma sente e a carne cobiça.

Tilintou melancolicamente através de mim.
O eterno som do crepitar.
Uma queimadura
Não sei quando parar.

Incinerei tudo o que de mim restava.
E quando olhei.
Nada havia para ver.

quinta-feira, 14 de março de 2013

incustoditus.

we used to be closer than this

Tal está a perdição que sinto
Que não me sinto já próximo
Longe de ti,
Longe de mim.

Uma flor desabrochou num campo infértil
Mais tarde morreu
Deixou para trás uma maldição
"Não quererás deixar descendência
Morreste, terra senil."

Assim o é
Assim o foi.

Serei eu condenado
Amaldiçoado ?

Dói-me a alma
Dói-me a minha individualidade
Dói-me o que sou.

Terei eu acabado de ser quando não foste mais meu?
Não serei mais, então.
Passarei a ser.
Alguém que não te é.
Foi, é e será teu.
Embora não o queira.
Sinto-o.

sexta-feira, 8 de março de 2013

stridor.

Não estou,
Intrinsecamente,
A pedir vida.

Pedi no entanto,
O agoiro
De uma morte vinda
E tão depressa perdida.

Gritei

Mais ninguém ouve meus gritos senão eu
As palavras estão gastas
Os sons banalizados
Sinto-me perdido no meio de uma alalia social.
Não sou comunicável
Não comuniquei
Nem nunca tentei.

Sei que tudo o que sou já houve.

Não sou novo
Não há original
Não há bom
Não há ótimo.

Tudo é a repetição de todo o outro.
Somos nada mais do que o passado
Somos a reconstituição do passado
Somos o presente.

Gritei.

Mais uma vez solucei
Chorei
Esbracejei
Caí

De nada me serviu
Tudo continuava calmo e indiferente
Uma calma agitada
Uma mistura de sons
De cores
De tudo.

Gritei

Mais uma vez e de todo desisti
A voz faltara-me
Caíra de vez num sono profundo
Será que morri ?
Espero que sim.

segunda-feira, 4 de março de 2013

Distorção.

Fabriquei de mim o último manto protetor
Sacrifiquei-me em meu nome
Construí-me
Perdi-me.

O que eu era foi-se
Quebrou-se
Multiplicou-se.

No fundo, tudo não passou de uma partenogénese.
Partenogénese do corpo
Da alma.
Da vida.
A parte que eu perdi de mim se desprendeu,
para noutro alguém permanecer.

Noutro alguém que se foi
Um nós que existira
Não me lembro bem quando
Ou como.
Sei que sim,
Existiu.

Uma voz ecoa no meu corpo
Repetição do passado
O meu interior apregoa

O meu amor por ti será
Foi,
É,
O que foi, é e será.

Luto contra uma força invisível
Luto contra mim
Luto.
A morte passou e o luto ficou.
Imprevisível.
A força abominável derrota-me
Deita-me pelo chão.

Oh demónio,
Que resides dentro de mim
Destrói-te para finalmente
Me mudar, assim.

Outrora vivi
Sobrevivi
E assim
enfim.

EU AMO-TE

E então o demónio volta a calar-se
E nas minhas vísceras o silêncio reina.
Consome-me.
Possui-me.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

समयापेक्षा

Passado
Presente
Agora

Ontem foi o futuro 
Hoje será o presente
De um passado
Acizentado.

Recordo o monocromatismo
Sinto a cor a esvair-se-me das veias
Sinto a tua presença
Oh
Não me invadas
Contém essa tua existência 
Uma sentença.

Tarde demais.

A lança já se espetara
O sangue já brotara
E a dor
A dor
A dor essa 
Que tão violentamente ataca
Rapidamente se cessa.

Será que acabou ?
Será que haverá
Mais uma estrofe,
Mais um tiro a disparar?

Gritei
O som que ecoava dentro de mim insistiu
Saiu
Profetizou então.
Som gutural
Ecoa
Enevoa o que poderia ter sido
Mas não é.
Foi.
Será.
Não é.

domingo, 24 de fevereiro de 2013

உள் நோக்கி வெடித்தல்

Entranhas
O sangue brota das veias
Infiltra-se
Penetra
Esventra

Sinto-me alienado 
Alienado de mim próprio
Eternizado no meu próprio ser

(O ser que não percebo
O ser que não existo)

Mata-me
Mata-me por favor
Quero sentir 
Sentir a espada
Sentir a lâmina fria da dor
Oh sim

Por favor

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Iniustitia.

Vida,
Serás mesmo um ciclo vicioso?
Vejo-te intransponível
Intransmissível
Ilegível
Incompreensível.

O que és tu ?
Tal como eu que nada sou
Serás um nada igual?

Deus ter-te-á controlada
Deus ter-te-á criado
Deus existe.
Não.

Deus é tudo o que desejamos ser e nada mais.
Deus é a vida a que aspiramos.
O que somos ?
Não passamos de nada.

É injusto poder ser feliz e não o ser.
Quero-o.
Não o posso.

E porquê ?
A vida não passa de uma incógnita inatingível.
Queres viver.
Mas não o fazes.

Sai de ti.
Exordia-te.